domingo, 6 de abril de 2014

Soneto da Saudade



Digo da saudade que eu sinto:
Por em palavras é impossível
Um sentimento do qual não minto,
Ao contrário, é mais que visível.

Tende a machucar-nos o distanciar
Do passado, que é prisão, e liberta
Com lembranças que alivia-nos o pesar

Dela não descrevo nem um quinto
Dessa tal sensação indizível
Como em um gole de absinto
Me vejo, a lembrar o risível

Palavras e faces e gestos e tudo
Rememorar aquela porta aberta
Que nos transportava para nosso mundo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Verdades sobre meu amor



Guarda sempre contigo o que vivemos, e estarei sempre contigo; em tua mente ou em teu coração, como preferires acreditar.
Meu amor por ti perdurará, mesmo após a morte, não importando se há ou não há um depois.
Pois ainda que não mais existamos, nosso amor estará gravado e guardado na história; e ainda que se realize o provável, e nossa história jamais seja contada, exaltada, ou distorcida em um romance barato, ainda que jamais divulguem nossos nomes, nosso amor, ainda que a própria história nos esqueça de tão insignificantes que somos em sua vasta existência; aquilo que foi, em tempo algum poderá deixar de ter sido, e nosso amor existirá igualmente infindo, quer como uma carta escondida no fundo falso de um baú, quer como mito bíblico.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


A me espiar sem muita feição, o rosto inerte, quase mumificado, apenas aqueles olhos vivos, castanhos e fixos a me fitar, não demonstrando raiva, pensar, alegria, nem pesar, apenas estavam ali a me olhar; E a princípio parecendo reduzir o meu espaço físico ao limite do seu campo de visão, mas como se me comprimisse para dentro de si, vi cada vez mais meu espaço retraindo-se e me dei conta de estar presente nada mais, nada menos, única e exclusivamente, o seu globo ocular, meu mundo por uns longos segundos; o esbranquiçado maior com algumas linhas, pontos pequenos cores de veias e etc., que preenchiam aquela atmosfera, a um olhar rápido e superficial, ou talvez poético, o céu e sua riqueza de cores em volta do mundo denso, castanho lindo, indescritivelmente lindo, a este me falta o que dizer, se há como expressar o quanto gosto deste castanho ainda não o aprendi; então, mais a fundo o negro, menor e por dentro, por entre o belo castanho, mas não menosprezemos o simples, não tão belo, em partes, a ele e ao branco atmosférico, graças, deve-se o enaltecimento do castanho, e para os homens que lhe passam rapidamente olhando nos olhos e não lhe contemplam as cores uma por uma, é graças a este negro a cor que seus superficiais olhares vêem, o castanho mais escuro quase se confundindo com o próprio negro.
Então, retomando meus segundos de contemplação, após o negro, o esférico e centralizado brilho, uma estrela colocada ali como que cirurgicamente, fazendo-me lembrar da ideia de que os olhos são as janelas para alma, por muito tempo acreditei que se houvesse alma seria os olhos a janela, e o sorriso seria a porta, mas pensando bem e relembrando o quão bonito e significante era aquele brilho, talvez haja apenas duas janelas altas, difíceis de escalar, raramente abertas e por vezes apenas entreabertas.
E a boca?
E o sorriso?
Talvez sejam a porta, realmente, mas para o mundo dentro do corpo, a corrupção da mente, um entrelaçado mundano entranhado na carcaça, com suas virtudes e defeitos variados, de acordo com a perspectiva do mundo entranhado em nossas carcaças, dificultando-nos conhecer tantas almas e até a nossa mesma.
Então que sorte tive, que sorte de ver aquela alma por entre a janela.
E acordando de repente, dando-me conta novamente que ela me olhara, perguntei: Hum?
Balancei a cabeça para cima e suspendi as sobrancelhas com ar interrogador, continuei: O que foi?
Sem muito compreender aquele olhar.
Ela me fez um sinal, com a cabeça também, como quem diz: Nada.
Volto a me perder na esfera brilhante.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O calor do momento


Não sei dizer, por hora, se é “o calor do momento”. Mas é horrivel a sensação de que seu sangue está a congelar-se, de que seu coração, sua boca, tudo parou, travou, e o tempo continua correndo, correndo, o mundo continua andando e você está ali parada sem saber o que fazer. Você está se sentindo culpada e com vergonha de se sentir culpada, pois até onde você sabe, é absolutamente inocente, não quebrou nenhuma promessa, mas isto é irrelevante para seus sentimentos que parecem ignorar o que você acredita, pois alguém está a lhe culpar e você sente culpa pelos sentimentos deste alguém. Parece não fazer sentido algum e é tão real que causa medo, é tão real que chega a doer, e a única coisa que você parece poder fazer é continuar parada, pensando se foi você quem errou, ou onde poderia ter errada, nada surge disso e você continua a fazer-se perguntas, será que poderia ter falado de forma diferente, ter feito de forma diferente, com certeza você sabe que sim, mas isso continua lhe parecendo insuficiente para se culpar, você quase implora por um bom motivo que te faça sentir culpa, assim seu coração poderá voltar a bater, sua boca poderá voltar a falar, então você poderá enfim pedir desculpas, abraça-lo e esquecer que existiu aquele momento, aquela sensação danosa. E seu ego, de uma forma estranha, poderá ficar novamente em paz.